“Três horas e trinta e três minutos e nada acontece. Meus olhos no teto desde as três e nada acontece. Uma espécie de nada multiplicado a vazios, ambos vencem, mas isso não é questão de vencer é só de aguentar.
Meu avô fumava charuto e eu fico só nos cigarros baratos, se ele me visse agora riria pra burro.
Eu conheço gente que diz se encaixar em todos os lugares e eu vivo repetindo que não mereço lugar algum, com crateras abaixo dos olhos e meu declínio em rabiscos espalhados em todos os lugares.
Tô sem paciência pra qualquer bad romance, qualquer discursão sobre filosofia ou política e essas chatices de lições de moral de quem acha que tem uma. Tô sem um pingo de porra de saco pra coisas boas ou ruins, nem pra meio termo e duvidas. O meu negócio ainda é o nada e às vezes essa é a dose certa no copo errado. Sou só uma criança com pedaços de unha nos dentes e a língua com gosto de vinho chorando saudade. Um sufoco, e eu ainda consigo respirar, fazendo uma porrada de coisas em seguida e jogando tudo nas costas como quem diz “segura aí baby, um dia acaba, mas segura aí”. Escuto as mesmas músicas todos os dias e não tenho discos favoritos e nem uma música predileta, embora morrer escutando Edith Piaf pareça legal, embora voltar a vida ao som de Cazuza seja ainda mais excitante.
Eu toparia sair com qualquer psicopata hoje, pra matar ou ser morta, pra explodir a cidade ou espalhar pedaços de cânceres por aí. Eu aceitaria cair em qualquer corrente só pra esquecer a sensação de como é ter os pés pra trás quando todos andam pra frente; o foda é que a frente deles é essa careta que eu não aguento encarar sem ter náuseas. Então eu encho o estômago de vinho e não consigo encher a cara, decido escrever e encher o saco. O teu, o meu e sei lá.”
( Raquel )
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